sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Posto que.
Posto que não encontraram teu nome
Dentre os nomes famosos
Posto que não tens busto
Nem praça
Nem rua
Nem estádio
Nem porto
Nem navio
Batizado com teu nome
Visto que a história
Não te nomeia
E sabendo que tu viveste
No meio de tantos milhões
E quem sem alarde
Fizestes coisas tais
Que jamais esquecerei
Visto que esquecida
Foi tua vida
E que no oculto
Tua mão te denunciou
Ao partir do pão
Ao sofrer a causa
Que não era tua
Saiba que
Depois que as praças
Estádios e ruas,
Portos, navios
Já não existirem
Teu nome sem honra
Que jamais esqueci
Para todo sempre
Há de ser
Lembrado.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
A Fórmula original da Coca-Cola
A Fórmula Sagrada da Coca-Cola
Extraído na íntegra de "Por Deus, Pela Pátria e Pela Coca-Cola", de Mark Pendergrast. Apêncice pág 379-383. Editora Ediouro, 1993. O livro "coincidentemente" sumiu das livrarias e sebos do país.
QUANDO RESOLVI escrever uma história geral da Coca-Cola, não tinha idéia de que descobriria a fórmula original, e ainda menos no ventre da própria companhia. Afinal de contas, tratava-se do segredo mais bem guardado do mundo, um segredo que a companhia se recusara a revelar a despeito de duas ordens judiciais. Em 1977, a companhia preferiu deixar a Índia a entregar a fórmula secreta a um insistente governo. Ainda assim, parece que consegui o impossível. Certo dia, Phil Mooney, o arquivista, trouxe-me uma pasta com papéis amarelados e dilacerados, que haviam sido cuidadosamente restaurados e postos entre lâminas de plástico. Explicou-me que eles constituíam os restos do livro de fórmulas de John Pemberton, doados à companhia na década de 1940.
Eu já conhecia a história desse livro. Quando rapaz, John P. Tumer viajara de sua cidade natal, Columbus, Geórgia, para trabalhar como aprendiz de John Pemberton nos últimos anos de vida deste último. Após a morte de Pemberton, Tumer levou o livro em sua volta para Columbus, onde trabalhou como farmacêutico durante muitos anos. Em 1943, o filho de Tumcr mostrou o livro a um membro da diretoria da Coca-Cola, abrindo-o na página que continha a fórmula. O diretor em causa convenceu o herdeiro de Tumer a entregar-lhe o livro. ''Deus do Céu!" exclamou Harrison, o presidente da diretoria, ao ver a fórmula. ''Onde foi que você conseguiu isso?" E essa foi a última vez em que alguém botou os olhos na fórmula.
A pasta que recebi dos arquivos da Coca-Cola dizia que este era "o livro de descrições e fórmulas pertencentes ao Dr. I. S. Pemberton, ao tempo em que era farmacêutico em Columbus", mas isso quase com certeza é incorreto, uma vez que uma das receitas, para uma cola de aipo, inclui pelo nome a Coca-Cola como ingrediente, o que a coloca sem dúvida nenhuma em 1888, uma vez que era a bebida em que Pemberton trabalhava quando de sua morte. O coração batendo em disparada, folheei com todo cuidado as páginas preservadas, embora, claro, pensasse que a companhia escondera um item crucial em algum lugar. Por isso mesmo, fiquei atônito ao descobrir o que parecia ser uma receita de Coca-Cola, sem nome, exceto por um ''X" no alto da página:
- Citrato de Cafeína 1 onça (28,350g)
- Ext. de Baunilha 1 onça
- Saborizante 2 112 onças
- F.E. Coco 4 onças
- Ácido cítrico 3 onças
- Suco de Lima 1 quarto
- Açúcar 30 libras-peso
- Água 2 1/2 galões (3,785 litros)
- Caramelo o suficiente
- Misture o Ácido de Cafeína e Suco de Lima em 1 quarto de água fervente e acrescente baunilha e saborizante quando frio.
- óleo de Laranja 80
- óleo de Limão 120
- óleo de Noz-Moscada 40
- óleo de Canela 40
- óleo de Coentro 20
- Nerol 40
- Álcool 1 Quarto
- deixe descansar 24h
Tirei fotocópia do documento, mas simplesmente não consegui acreditar que alguém na companhia me entregasse a fórmula original. Com certeza, devia ser apenas uma precursora do produto autêntico. Mas em seguida tive confirmação inesperada de que descobrira, por acaso, algo muito mais valioso do que pensava. Ao entrevistar Mladin Zarubica, o Observador Técnico que produzira a "Coke branca'' para o general Zhukov, disse-lhe que tinha a fórmula. '; Oh, tem mesmo?" disse ele. '''Eu também. A companhia me deu uma cópia quando tive que tirar a cor para Zhukov. Quer vê-Ia?" Eu queria, realmente. Ao chegar a fotocópia de sua correspondência, datada de 4 de janeiro de 1947, ela continha exatamente a mesma fórmula que eu encontrara nos arquivos - mesmos volumes, mesmo formato, até mesmo o erro de grafia em 'F.E. Coco.' Notei uma única diferença: a fórmula de Zarubica era incompleta, deixando de fora os dois ingredientes finais da 7X d (coentro e nerol). Parecia que a companhia não quisera liberar a fórmula completa e tomara a precaução de alterá-la dessa maneira.
Fiquei estarrecido. Eu não só entrara de posse da fórmula original de Pemberton, guardada nas entranhas da própria companhia, mas ela aparentemente sobrevivera sem mudança durante pelo menos 60 anos, após o inventor a ter escrito naquele papel ora restaurado. Mas isso era um autêntico mistério. Contradizia a declaração de Howard Candlcr de que seu pai, Asa, mudara substancialmente a maneira de fabricação da Coca-Cola. E por que a fórmula de Zaiubica não mencionava folha descocainizada de coca ou o fato de a companhia não usar mais ácido cítrico, mas fosfórico? Ou que o volume de cafeína fora reduzido? E essas não eram as únicas mudanças introduzidas na fórmula. O velho Asa aparentemente andara também mexendo na 7X Ao longo dos anos, mudara também o volume e tipo do adoçante.
Parece que mesmo quando os ingredientes e proporções originais são revelados, persiste a mística em torno da fórmula. Minha conclusão final: a companhia, na verdade, não deu a Mladin Zarubica, em 1947, a fórmula em uso corrente - e nem mesmo tinha versão parcial da mesma. Em vez disso, Zarubica recebeu uma versão truncada da fórmula original, o suficiente para que seu químico descobrisse como tornar branca a Coke marrom. Permanece o mistério de por que a companhia me entregou a fórmula existente em seus próprios arquivos. Só posso supor que havia outra receita da Coca-Cola claramente rotulada no livro de Tumer, que foi escondida, mas ninguém examinou com atenção o resto da fórmula, e a variedade ‘X' passou despercebida.
Em seu livro de 1983, Big Secrets, Williain Poundstone dá sua versão da fórmula, e que é um palpite razoavelmente acurado da mistura corrente. Em um galão entram:
- Açúcar: 2.400g em água suficiente para dissolver:
- Caramelo: 37g
- Cafeína: 3,lg
- Ácido Fosfórico: 11g
- Folha descocainizada de coca: 1,1g
- Nozes de cola: 0,37g
- Suco de lima: 30g
- Glicerina: 19g
- Extrato de baunilha: 1,Sg
- óleo de laranja: 0,47g
- óleo de limão: 0,88g
- óleo de noz-moscada: 0,07g
- óleo de canela (canela chinesa): 0,20g
- óleo de coentro: traços
- Nerol: traços
- óleo de lima: 0,27g
Misture em 4,9g de álcool a 95%, adicione 2,7g de água, deixe descansar por 24 horas a 60 graus F.[162C]. Uma camada turva se separará. Retire a parte clara do líquido e acrescente ao xarope.
Acrescente água suficiente para fazer 1 galão de xarope. Misture uma onça de xarope com água gaseificada para obter um copo de 6,5 onças.
Poundstone e várias outras fontes alegam que o óleo de alfazema pode também fazer parte da fórmula, e uma jovem especialista do departamento técnico, com quem andei certa vez num elevador, concordou comigo. Ela acabara de voltar de Grasse, onde durante séculos especialistas franceses extraíram várias essências de óleo - incluindo nerol (tirado de uma variedade de flores de laranjeira) e alfazema.
Embora a fórmula contida no Big Secrets possa aproximar-se muito, ela não confere com o depoimento feito sob juramento pelo Dr. Anton Amon, químico da Coca-Cola, em um recente caso judicial. Segundo ele, são necessárias 13,2 gramas de ácido fosfórico para fazer um galão de xarope, e não 11, e 1,86 grama de extrato de baunilha, e não 1,5g. Disse Anton que a companhia acrescenta 91,99 gramas de "um caramelo comercial de estabilidade forte", ou muito mais do que as 37 gramas de Poundstone. Não obstante, os ingredientes da fórmula são provavelmente exatos.
A começar com Asa Candler, ninguém na companhia se referia aos ingredientes pelo nome. Em vez disso, o açúcar era a Mercadoria #1; caramelo, Mercadoria #2; cafeína, Mercadoria #3; ácido fosfórico, Mercadoria #4; folha de coca e extrato de noz de cola, Mercadoria #5; mistura saborizante 7X, Mercadoria #7; baunilha, Mercadoria #8. Essa nomenclatura pegou, embora desde a era Candier os números 6 e 9 - talvez suco de lima e glicerina - tenham desaparecido, provavelmente absorvidos na 7X ou em algum outro ingrediente.
Estudei demoradamente os efeitos da folha de coca e da cola no corpo principal do texto. À parte isso, são na verdade fascinantes, ainda que inconclusivas, as histórias populares que cercam os demais ingredientes, considerando os volumes diminutos de cada um deles e a veracidade duvidosa de fontes antigas. A cássia, por exemplo, foi usada como cura para artrite, câncer, diabetes, tonteira, gota, dor de cabeça e dor de estômago. A noz-moscada combatia a infecção durante a Peste Negra, serviu como psicotrópico e narcótico, e é receitada na índia para disenteria, gases, lepra, reumatismo, ciática e dor de estômago. A baunilha é usada variadamente como afrodisíaco, estimulante ou anti-espasmódico, cura histeria, impede o aparecimento de cáries e reduz gases. E o mesmo se aplica aos demais ingredientes.
* * *
Uma vez que a fórmula secreta gerou volumes espantosos de dinheiro, não me surpreendeu que ninguém na companhia quisesse falar sobre ela. Tendo recebido permissão para entrevistar praticamente todo mundo na empresa, negaram-me, contudo, acesso a Mauricio Gianturco, chefe da divisão técnica. No fim, deixaram-me entrevistar Harry Waldrop, um ‘psicometrista graduado' (não é brincadeira, é esse mesmo o título dele) que, até cinco anos passados, em membro do corpo de elite de provedores de sabor que faz amostragens de partidas da Coca-Cola Classic.
Os membros do grupo conhecem a 7X tanto pelo cheiro quanto pelo gosto e podem discemir diferenças mínimas ocasionadas por envelhecimento. Da mesma maneira que alguns provedores de vinho podem provar um 1945 Mouton-Rothschild e diferenciá-lo de outro da safra de 1946, Waldrop pode identificar uma partida de xarope de Coke de dois meses de idade. ''Todos nós conhecemos o sabor e o aroma do material autêntico", diz Waldrop, "mas é difícil dizer isso em palavras. Só quando estão fora do padrão é que tentamos descrevê-los.'' Os membros do grupo podem se subdividir em pequenos grupos, por exemplo, para discutir um gostinho ligeiramente amargo que refugam. Embora todos os ingredientes sejam cuidadosamente medidos e submetidos a teste por cromatografia de gás e outros aparelhos científicos de aferição, Waldrop não acredita que o computador possa substituir o ser humano. "Um nariz eletrônico não poderia captar as sutilezas, a parte hedonística", garantiu-me ele.
Embora cientistas possam provavelmente identificar os diferentes ingredientes da Coca-Cola, e até mesmo estimar seus volumes aproximados, não podem, segundo funcionários da companhia, duplicar a mistura exata. Incrível como possa parecer, apenas duas pessoas em atividade na companhia supostamente sabem como misturar o 7X. Isso faz com que elas viajem constantemente de avião a Cidra, Porto Rico, e Drogheda, Irlanda, para reabastecer o suprimento dessas duas enormes fábricas de concentrado, que fornecem os tijolos para a maioria da Coke consumida no mundo. Há ainda no mundo outras fábricas menores de concentrado. Ninguém, claro, gostaria de falar sobre essas questões de logística.
A despeito de todo o mistério e paranóia acumulados em torno da fórmula famosa, certo dia um porta-voz da companhia baixou a guarda quando perguntei o que aconteceria se eu publicasse neste livro a fórmula autêntica, com instruções detalhadas. Ele sorriu largamente. "Mark", disse, "digamos que este é o seu dia de sorte. Acontece que tenho, aqui mesmo em minha mesa, uma cópia da fórmula.'' Abriu a gaveta e me entregou um documento fantástico.
- "Aí está. Agora, o que é que vai fazer com ela?"
- "Bom, vou incluí-Ia no meu livro."
- "E ... ?"
- "Alguém pode resolver estabelecer-se e concorrer com a The Coca-Cola Company."
- "E que nome ele vai dar ao produto?"
- "Bem, não poderá chamá-lo de Coca-Cola porque vocês o processariam. Vamos dizer que o chamem de Yum-Yum, e que insinuem, de uma forma a não dar razão a um processo judicial, que a Yum-Yum é na verdade a fórmula original da Coca-Cola."
- "Ótimo. E daí? Quanto vão cobrar por ela? Como vão distribuí-la? Como vão divulgá-la? Está entendendo aonde quero chegar? Gastamos mais de 100 anos e volumes inacreditáveis de dinheiro construindo o capital dessa marca. Sem nossas economias de escala e nosso inacreditável sistema de comercialização, quem quer que tentasse duplicar nosso produto não chegaria a lugar nenhum e teria que mudar coisas demais. Por que alguém se daria ao trabalho de ir comprar Yum-Yum, que é realmente igual à Coca-Cola mas que custa mais, quando pode comprar a Coisa Real em todo o mundo?''
Não consegui pensar em coisa alguma para dizer.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Haverá um dia
Haverá um dia
Na qual não haverá
medo
Haverá manhã
em que não haverá dor
Não haverá sombra
Resquício sem cor
Tudo que lembrar
Menos que um carinho
Menos que um abraço
Toda cor sem cor
De nós será banida
E o coração tão triste
Se libertará!
Quem anda encurvado
Virará seus olhos
e com desprendimento
Olhará os céus!
virá junto ao canto
E o canto de alguém
Exalará amor
Que os sonhos todos
Haverá um dia
Que não haverá medo
em que não haverá dor
Mesmo lá por dentro
Não haverá sombra
Resquício sem cor
Tudo que é cinza
Tudo que lembrar
Menos que um carinho
Menos que um abraço
Toda cor sem cor
De nós será banida
Se libertará!
Virará seus olhos
e com desprendimento
Olhará os céus!
O brilho das estrelas
virá junto ao canto
E o canto de alguém
Exalará amor
Chegará o dia
Que os sonhos todos
Serão como sombra
Diante de tanta cor
E quem vê e pensa
que agora enxerga
reconhecerá
Que nunca enxergou
Todas nossas vozes
hoje dissonantes
serão como acordes
em seu resplendor
E então veremos
que valeu a pena
era falta da cor
sobre nossas telas
que já vem enchendo
Essa aquarela
Esse rincão de vida
Este coração.
tanta cor e vida
Seremos qual meninos
na primeira vez
que virmos um desenho
Numa tela imensa
Num azul sublime
De uma floresta
Pintada a mão
Ainda sinto a história
Quando era menino
Ainda vejo a tela
No cinema enorme
E ainda me lembro
De ficar parado
Olhando a imensa tela
Ou era violeta
seja lá que cor
Quando as cores todas
forem derramadas
em nossos corações
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Quem dera.
Que decide não voar
Depois
Que o Pai determinou
Quem é aquele
Que anseia não fazer
Aquilo
Que o Pai já ordenou.
Como seria
Acalmar o coração
Ou apagar o fogo
De ouvir a sua voz
Como seria
Não arder ao escutar
A sua Palavra
Sua voz
Sua direção.
Pois mesmo antes
De o Pai o ordenar
E antes mesmo
De seus lábios se moverem
Levantam os
Que pressentem seu chamar
Ao respirar
Alterado do Senhor
Quem dera o corpo
Que envolve o que é mortal
Fosse despido
Como veste no calor.
Quem dera a alma
que anseia escutar
queimasse inteira
ao chamar
deste Senhor.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Pequim
MELANCOLIA (LAMENTO)
A nova é adorável como a flor.
Mas a antiga é preciosa como o jade.
Ondulante, a flor não se sabe conter.
Puro, o jade não muda.
A que hoje é antiga foi nova, outrora.
A nova será antiga, um dia.
Vede a casa de ouro da Rainha Ch’en:
nascem teias de aranha em suas cortinas silenciosas.
(Poema de Li T’ai Po)
Tradução: Cecília Meireles.
agora brancos de orvalho
orvalho da noite alta
invade as meias de gaze —
a dama que fez baixar
as persianas de cristal
contempla a transparência
a clara lua de outono
(Poema de Li T’ai Po)
Tradução: Haroldo de Campos
ODE 274
Mão de Rei Wu
não cai, só sua.
Não faz qual sol
luz só de dia.
Shang Ti (no céu)
Fez- reis Ch’eng e K’ang;
mol dou os réis;
ta lhou- lhes luz.
Gongo, flau ta soam,
tam- tam no tom,
som do bom grão
se ou ve en tão.
Quem faz, faz bem,
Quem não tem fim.
Um dom do chão
vem com o grão.
(Do Livro das Odes de Confúcio, 600 a. C.)
Tradução: Augusto de Campos
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Camundongo encontrado em canteiro de Obras
Camundongo encontrado no Canteiro do Coque
Um camundongo foi encontrado morto no dia 20/6 em frente à saída de emergência do canteiro avançado do Coque. O local foi dedetizado contra roedores, porém eles vêm em busca de alimentos que por ventura caíram no chão.
Eram duas horas da manhã no canteiro do Coque. os céus crispados e o vento insólito varriam as poças de chuva, enquanto a chuva torrencial se abatia sobre a silenciosa e gigantesca obra do Coque da Refinaria Duque de Caxias. O guarda de plantão, com a capa amarela sintética absolutamente encharcada se dirigia com a lanterna até o veículo de gamagrafia que se aproximava do portão fechado da entrada do canteiro. O vento cortante, frio como o inverno, jogarrava gotas sobre o vidro da embaçado da janela da Fiorino com as identifi cações de radiotividade, enquanto o técnico que dirigia abaixava o vidro tentando a custo conversar com o vigilante:
- Oi! boa noite - gritava - Você tem uma garrafa de café quente aí?
- Não sei se está quente! Vou abrir o portão e vê se na garrafa creme ainda tem alguma coisa!
- Ok!
O vidro é fechado, enquanto apressadamente o vigilante solta a corrente do portão. A fiorino para próximo a porta de entrada. Os três técnicos correm para dentro da copa em busca de abrigo e café. Então as luzes se apagam.
- Muito azar! Tá dando pra enxergar a garrafa?
- Tá ali no canto. Eu acho. Vou pegar a a lanterna - disse um dos técnicos. Ele corre até a fiorino. Então tomado de súbito calafrio, enrijece. Levanta os olhos e vira lentamente a cabeça em direção a entrada do Canteiro. Os olhos da criatura brilharam numa cor avermelhada, iluminadas pelos raios que caíam, observando o técnico assustado. Quando vê a criatura, quase do tamanho de um porco com 300 kg, ele dá um grito de pavor. Solta alanterna e corre para
a Copa. os outros assustados largam os copos no chão enquanto a criatura corre em sua direção. Não tiveram tempo de reagir quando o estranho animal avança para dentro da copa. A mesa é derrubada pelo pulo de três metros da criatura, enquanto os técnicos de gamagrafia são lançados para trás. Começa uma luta desigual.
-Cala a boca e continua batendo!
O animal guincha quando uma cadeira é lançada em sua direção e então sai correndo de dentro da copa.
- Minha nossa! Pro carro! Pro carro!
Os técnicos correm e entram assustados enfiando a chave a custo na direção. As luzes da fiorino são ligadas e á frente do carro próximo á parede os olhos vermelhos da besta-fera brilham mais uma vez, No desespero o motorista engata a ré, quando o enorme anima bate no vidro dianteiro.
O carro sai derrapando de ré com o naimal tentando quebar os vidros, e então enguiça.
- Tira essa joça daqui! Tira! Afogou! Afogou!
- Como assim afogou?
A vidraça da frente se despedaça pela patada certeira e quando o animal se atira para dentro do carro ouve-se um estrondo de arma de fogo! O vigilante alertado pela arruaça dera um tiro certeiro no animal, que pula para fora do carro e vira-se em direção ao vigilante. Outro guincho. Um novo tiro. O animal corre e voltando-se ataca o vigilante. A arma cai no meio da lama quando uma caixa de chumbo aberta é lançada ao lado da criatura. Uma pastilha de césio 137 é exposta ao lado do animal.
Começa a diminuir de tamanho.
Até o tamanho de um camudongo.
A pastilha é guardada.
Quatro homens cansados observam o camundongo morto.
- E ai?
- E ai o que?
- O que foi isso?
- Sei lá. Não tenho a mínima idéia.
- Cara! vamos chamar a segurança;
-Voce ficou maluco? Querem que nos internem. Deixa essa porcaria aí e vamos embora.
- E o rato? Vai ficar ai na lama?
sábado, 2 de agosto de 2008
A parábola bíblica com o Batman
O Batman de Veríssimo
Texto “Poderes”, de Luís Fernando Veríssimo, no site do Estadão:
O Batman é um super-herói sem superpoderes. Não voa, não enxerga através do aço, não faz o globo girar ao contrário. O único outro exemplo da espécie que me ocorre é o Fantasma, mas o Fantasma ficou datado. Há algo de irremediavelmente antigo na sua figura, vivendo aquela fantasia de onipotência colonial entre os pigmeus. O Batman, ao contrário, é um herói metropolitano. Só é concebível num cenário urbano onde o gabarito foi liberado. E fica cada vez mais atual. Cada nova versão do Batman no cinema é mais sofisticada do que a anterior. Começou como gibi filmado, já foi comédia pós-moderna estilizada, agora - pelo que leio, ainda não vi - é uma tragicomédia com sombrias referências às paranóias do momento. Batman é reincidente e nunca fica datado porque nunca fica bem explicado, tem sempre uma conotação a mais a ser explorada, um lado da sua personalidade e da sua legenda a ser descoberto e dramatizado. E acho que o fato de não ter superpoderes tem muito a ver com a sua permanência através de todos estes anos, que não foram piedosos com os outros super-heróis clássicos, massacrados pela paródia e o esquecimento.
Desde o momento em que foi matar uma mosca e demoliu a mesa, o Super-homem conhecia seus poderes. Os poderes definiram o homem. Ele não poderia ser outra coisa além de Super-homem, sua vida estava decidida já nas fraldas. Batman escolheu ser Batman. Nada determinava a sua escolha. Não tinha nem a carga genética para guiá-lo, como o Fantasma, que pertencia a uma dinastia de Fantasmas. Se a legenda do Super-homem é uma parábola sobre a predestinação, a do Batman é uma reflexão sobre o livre-arbítrio. A única coisa que une os dois é a obsessão em fazer o Bem - o que torna a escolha do Batman ainda mais misteriosa. Ele decidiu ser um homem-morcego. Logo o morcego, bicho hemofágico e ruim, cuja única antropomorfização (com perdão do palavrão) conhecida antes do Batman foi o Drácula. Escolhendo um símbolo do Mal para fazer o Bem, Batman enfatizou seu livre-arbítrio. Nada determina as suas ações, nem a Natureza que fez o Super-homem super e o morcego asqueroso. Sua obsessão pelo Bem é uma escolha moral, desassociada de qualquer imperativo externo. Ele não é um herói para melhorar a reputação dos morcegos nem porque veio de outro planeta predestinado a ser bom, ou porque gosta de usar malha justa. O que a sua legenda nos diz, e talvez por isso dure tanto, é que o ser humano é cheio de imperfeições e maus impulsos, limitado pela biologia e condicionado por mitos e tradições, mas é livre para escolher o que quer ser. E decidir ser justo.
Está aí, um super-herói do iluminismo. Longa vida para o Batman.