quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Poesia do poeta encarcerado

Há de chegar o dia
Em que o poeta magro
Atado, amarrado e acorrentado
Em meu interior
Será imputado como inocente
E posto outra vez
A merce da liberdade
Há de chegar o dia que
Este vestígio lúgubre
De alma pura
Será posto sob o teto de estrelas
E ainda cambaleante
Este magro ser
Alimentado de pão e sal
De água e dor
Colocará as mãos tremulas
Sobre as vistas desacostumadas
Deste novo amanhecer
Há de chegar o dia
Que este poeta cansado
Essa promessa desaparecida
Despertará em sua odisséia
De pão, sal, água e escuridão
E Tomará do punhado da terra
Entre suas magras mãos
E regerá as folhas das árvores
Quando vier o vento
E quando esse dia chegar
Seus pés se firmarão sobre as águas
E sobre a terra envilecida
O outrora corredor de sonhos
Relampejará sobre os mares
E gritará seus versos solenes
Derramando a poesia
Sobre a prosa insípida
Descrevendo em fantasia
Suas constantes divagações!
E há de chegar o dia,
Há sim! Eu sei!
Que a multidão dos que o odeiam
Terão nas mãos as lanças e as tochas
Gritando palavras de ordem!
E há de chegar o dia!
Em que durante a tropega fuga
Ainda sobrarão versos
Nessa dura empreitada
Da arte de compor com a alma
A vida que pra ser vivida
Haverá de correr!

Welington José Ferreira

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Pedro Cardoso diz que atores são obrigados a fazer pornografia



Pedro Cardoso diz que atores são obrigados a fazer pornografia.



E a Welington Corporation assina em baixo.


Pedro Cardoso fez um discurso exaltado e polêmico no lançamento do longa-metragem Todo Mundo Tem Problemas Sexuais, de Domingos de Oliveira, na noite desta quarta-feira no Festival do Rio. O ator, que também produz o filme, acusou alguns diretores brasileiros de promoverem a pornografia na televisão e no cinema, obrigando a classe artística a participar de tais cenas. » Veja a foto ampliada » Veja mais fotos de Pedro Cardoso no cinema » Opine sobre o assunto "A pornografia tornou-se agora um modo de atrair o público. Temos visto cenas de nudez ou quase nudez em basicamente toda a programação dos programas de televisão", disparou. "A constância com que isso aparece tem colocado em exposição a nudez dos atores. É raro um trabalho, seja flme, novela ou programa de humor que não inclua cenas deste tipo." "A minha tese é de que a nudez impede a comédia e mesmo o próprio ato de representar. Quando estou nu, sou sempre eu a estar nu, nunca o personagem. Ao despir-se do figurino, o ator despe-se também do personagem", afirmou, ressaltando que Todo Mundo tem Problemas Sexuais, apesar do tema, não traz nenhum momento de nudez.
"Eu fiz algumas cenas de nudez muito parcial e me senti sempre muito mal. Esse absurdo causa grande desconforto ao ator e a atriz porque nos obriga a mentir", citou, recebendo aplausos. "A nudez produz uma sensação erótica. Neste filme, os atores estão vestidos para que os personagens possam estar desnudos."
"A pornografia está tão dissimulada em nossa cultura que não a reconhecemos como tal. Hoje qualquer diretor, medíocre ou não, se acha no direito de determinar que uma atriz possa ficar pelada numa cena ou parcialmente despida", disse, ressaltando, indiretamente, que os diretores da TV Globo também apelam para a "pornografia" televisiva.
"É frequente que cineastas de primeiro filme exibam para seus amigos em sessão privê as cenas privadas que conseguiu de uma determinada atriz", acusa. "Quando os atores se recusam a fazer nudez, os diretores ficam bravos e fazem malcriações, como crianças mimadas, porque se consideram no direito a ela".
O protesto de Cardoso abriu espaço para a discussão, especialmente entre os atores. Em tom revoltado, ele pediu que os artistas não se submetam a cenas de nudez.
"Até quando nós atores ficaremos atendendo ao voyeurismo e a disfunção sexual de diretores, roteiristas e produtores?", questiona. "Eu penso num dia que não teremos medo do You Tube ou das sessões nostalgia do Canal Brasil. O dia que não teremos medo que nossos filhos tenham que responder perguntas constrangedoras dos colegas na escola."
"Um diretor não deveria pedir que faça algo que ele não pediria a uma filha sua. Se essa gente quer nudez, que fiquem nus eles mesmos."
"Atores e atrizes podem dizer não às cenas que se sintam desconfortáveis. Não temos uma obrigação de tirar a roupa, que esta não é uma exigência do ofício de ator e sim da indústria pornográfica. E a conclusão de sempre: o programa popular tem que ter calcinha e sutiã, como se a gente brasileira fosse assim medíocre", ressalta.
O discurso levou Cardoso a tocar no assunto da vida pessoal. Namorado da atriz Graziella Moretto, no ar na TV Globo com a novela Três Irmãs, insinuou que ela sempre é contrariada nos bastidores da produção televisiva.
"No ar, na novela das 19h, ou mesmo das 18h, criam-se cenas de estupro, de banho, exibicionismo e adultério. Tudo apenas para proporcionar as cenas de nudez e influenciar o tesão alheio."
"E para que não digam que estou transtornado com esse assunto só porque agora estou namorando com uma atriz: de fato, dói mais a dor que dói em nós mesmos."
"Agora ver a mulher que eu amo tendo que diariamente se defender no trabalho contra a pornografia tornou esse assunto a primeira ordem do meu dia. Se antes era apenas responsabilidade profissional me opor à pornografia, agora é também por amor", finaliza.
Tomada pelos aplausos, Claudia Abreu, que também está no elenco do filme, deu seu depoimento. "Já passei por uma situação como essas recentemente e ele está completamente certo. É exatamente isso que acontece", disse. Vale ressaltar que a atriz aparece completamente nua no filme Os Desafinados, de Walter Lima Jr., em cartaz em alguns cinemas do País.
Redação Terra





Um manifesto essencial para respeito e preservação da dignidade do artista. O que os autores, roteiristas, diretores e a própria mídia tem realizado repetidas e cansativas vezes é a realização de seus próprios desvarios sexuais. Há um culto manifesto a pornografia em nosso país. E em nome da falsidade ideológica de "despir-se de preconceitos" obras destituídas de qualquer presunção de respeito à pessoa do ator, usam uma fraseologia inócua, uma filosofia torpe para a qualquer momento expor atores a uma condição que os deprime, que os agride moral e psicologicamente. A institucionalização da prática pornográfica nas esferas televisivas e do cinema brasileiro é prática corrente, perene, onipresente, uma aula de como um país deixou que sua cultura sucumbisse à prática de um teatro de lascívia. Em nenhum momento tais diretores pensaram na criança e no adolescente e na conseqüência que a erotização precoce possui no desenvolvimento das relações humanas. Co-participes de induzir a gravidez de milhares de adolescentes, através da força da imagem, da didática da pornografia, fruto de uma escravidão ilegítima e subliminar de nosso teatro, televisão, artes, cinema por um grupo de discípulos de Onã, cujo único interesse, pelo que podemos concluir, é uma interminável, ainda que breve por natureza, masturbação.



Welington José Ferreira

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Todas Elas juntas Num Só Ser

Todas Elas juntas Num Só Ser

Lenine

Composição: Lenine / Carlos Rennó

Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Ben jor;

Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;

Já não homenageio Januária,

Joana, Ana, Bárbara, de Chico;

Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

Nem a tigreza nem a vera gata
Nem a branquinha, de Caetano;
Nem mesmoa linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;

Nem Anna Júlia do Los Hermanos.

Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero, por querer.

Não canto de Melô pérola negra;
De Brown e Hebert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem minha faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
Divina garota de Ipanema,
Nem Iracema, de Adoniran.

De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;

De Michael Jackson, nem a Billie Jean;

De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;

Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,

Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato,
E de Layla, de Clapton, eu abdico.

Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.

Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-me-belle, do beattle Paul;
Nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;

E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmená;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;

E nem a carioca de Vinícius
E nem a tropicana de Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão

Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.

De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia,
Nenhuma tem meus vivas! E meus salves!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! - do mano Xiz!

Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,

Ana do outro rei, o do baião

Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.

Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.

Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que com seus dotes e seus dons,
Inspira parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madallene, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho;
Ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry,
E a manequim do tímido Paulinho;

Ou como, de Caymmi, a moça prosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas.
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida;
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas... mas não mais que três...

Só você...
Mais que tudo é só você;
Só você...
As coisas mais queridas você é:

Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Steve Wonder, ó minha parceira.

Você é pra mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a domna pra Ventadorn, Bernart;
Que a honey baby pra Waly Salomão
E a funny valentine pra Lorenz Hart.

Só você,
Mais que tudo e todas, é só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

História de ben-te-vi


História de bem-te-vi

Cecília Meireles


Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa só de jardim zoológico; e outras até acham que seja apenas antigüidade de museu. Certamente chegaremos lá; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore. Bom será que essa árvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palácio verde podem morar muitos passarinhos.

Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabiás, maracanãs e "querejuás todos azuis de cor finíssima...". Nós esquecemos tudo: quando um poeta fala num pássaro, o leitor pensa que é leitura...

Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.

E é pena, pois com esse nome que tem — e que é a sua própria voz — devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.

O que me leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: "...te-vi! ...te-vi", com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.

Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão — como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? — animou-se a uma audácia maior Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar apenas daqui, dali, invisível e brincalhão: "...vi! ...vi! ...vi! ..." o que me pareceu divertido, nesta era do twist.

O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol — que se não há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam os lemas dos seus brasões? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma no primeiro indivíduo que encontram.

Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar E cantava assim: "Bem-bem-bem...te-vi!" Pensei: "É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!..." Depois, o passarinho mudou. E fez: "Bem-te-te-te... vi!" Tornei a refletir: "Deve estar estudando a sua cartilha... Estará soletrando..." E o passarinho: "Bem-bem-bem...te-te-te...vi-vi-vi!"

Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: "Que engraçado! Um bem-te-vi gago!"

(É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...)


Texto extraído do livro “Escolha o seu sonho”, Editora Record – Rio de Janeiro, 2002, pág. 53.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A oferta da viuva pobre


Atendendo ao pedido de Natalia:

Marcos 12:38/44
38 E dizia no seu ensinamento: “Guardai-vos dos escribas que gostam de circular de toga, de ser saudados nas praças públicas, 39 e de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes, 40 mas devoram as casas das viúvas e simulam fazer longas preces. Esses receberão condenação mais severa.”
41 E, sentado frente ao Tesouro do Templo, observava como a multidão lançava pequenas moedas no Tesouro, e muitos ricos lançavam muitas moedas. 42 Vindo uma pobre viúva, lançou duas moedinhas, isto é, um quadrante. 43 E chamando a si os discípulos, disse-lhes: “Em verdade eu vos digo que esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. 44 Pois todos os outros deram do que lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver.”


Quando a história de Israel se inicia como nação livre do julgo egípcio, liderada pelo profeta Moisés, é instituido um sacerdócio hereditário através da tribo dos Levitas (um dos grandes grupos que formavam o povo Israelita, tribo a qual Moisés fazia parte. Seu irmão Aarão foi o primeiro sumo-sacerdote de Israel). Esta tribo teria o privilégio, ao mesmo tempo a obrigação, de cuidar das coisas relativas ao tabernáculo, uma enorme tenda, que simbolizava a presença e a misericórdia de Deus para com o povo.
Por milhares de anos, os únicos bens dos descendentes de Levi (Levitas), os sacerdotes e seus filhos, e os outros auxiliares levitas que cuidariam das coisas sagradas, seriam os que pudessem usar das ofertas e sacrifícios feitos por sua nação diante deste tabernáculo. Os sacerdotes não poderiam possuir vinhais, terras cultiváveis ou possessões, não receberiam uma herança em terras, porque o sacerdócio seria a sua herança. Suas vidas dependiam da generosidade dos ofertantes e igualmente da fidelidade ao cumprimento da Lei dada através de Moisés. As ofertas poderiam ser em porções de carne dos cordeiros e de reses ofertados, ou em grãos, cereais, azeite, farinha, trigo ou porções das diversas especiarías cultiváveis. Além dessas ofertas, os sacerdotes recebiam ofertas em pedras preciosas, ouro, prata, utensílios para o templo, do qual deveriam tirar o suficiente para viverem e o restante seria para conservação de suas casas, para conservação dos objetos do santuário, de suas roupas rituais e seculares.
Quando Jesus viveu entre os israelitas, o tabernáculo já não existia mais. Mil anos antes de Cristo, um rei chamado Davi sentiu que a arca do concerto deveria estar num lugar melhor do que o palácio onde ele morava. O Israelita entendia que de certo modo, Deus morava naquele lugar, naquela tenda envelhecida. Salomão, filho de Davi ergueu um templo magnífico e levou para dentro dele as coisas que eram guardadas na velha tenda. Por séculos os israelitas adorarariam agora naquele templo espetacular. Com a dominação babilônica, este templo foi queimado e destruido. Após o retorno do exílio, um segundo templo, mais simples, destituido da beleza e dos materiais caríssimos do primeiro templo, foi reerguido em seu lugar. Na época de Jesus, ele fora reformado por Herodes, que intentou torná-lo tão belo quanto o templo original. O templo de Jerusalém era um prédio magnífico, umas das maiores construções da antiguidade. Milhares de peregrinos vinham todo ano de todas as partes do mundo para a comemoração das festas judaicas ao redor daquele templo.
Embora os sacerdotes não tivessem a necessidade do sustento através das ofertas, como nos tempos da antiguidade, os grupos religiosos que dominavam o sacerdócio na época instituiram leis rígidas a respeito das ofertas. O judaísmo, que reinterpretava os escritos de Moisés, estava a cargo de uma elite sacerdotal, que via no templo um grande negócio. As famílias sacerdotais da época de Cristo eram as que possuíam o monopólio da venda de animais para os sacrifícios, os mesmos animais que enchiam regiões santas do templo, negociadas a alto custo para os peregrinos, quase que forçados a execução de sacrifícios. A instituição da oferta ganhou uma conotação de veneração. dezenas de escritos rabínicos e de escribas, os intérpretes oficiais das escrituras hebraicas, veneravam a oferta, incentivando-a e até tornando-a de maior importancia que os sacrifícios do próprio templo. A oferta na época de Cristo na passagem das festas era um negócio semelhante a venda de indulgencias na idade média. Como esta se revestia de importancia sagradada, o ato era acompanhado de observação faustosa. Grupos de fariseus acompanhavam até a quantia que ali era colocada, aplaudindo ou celebrando e cobrindo de "bençãos" aqueles que muito ofertavam. Quando um rico se aproximava do local onde a oferta era realizada, era energicamente saudado.
Havia uma segunda intenção dos que assim ofertavam. Vaidade humana, o reconhecimento de sua generosidade diante das autoridades religiosas. faziam questão de serem vistos quando assim o faziam. Quantias pequenas de dinheiro eram desprezadas. Valores mínimos foram instituidos por um clero avarento. A concorrencia entre os ofertantes era incentivada. Perdeu-se o caráter e a razão da contribuição voluntária. Jesus observava a festa mundana no que se transformou aquilo que era fruto de corações agradecidos, para o sustento do templo, numa festa podre.
Quando uma viúva se aproximou do altar das ofertas, a multidão de fariseus gelou. A viúva no tempo de Cristo era uma mulher quase que desamparada. Se não tivesse filhos que a sustentassem, suas condições seriam quase de uma mendicante. A condição de mulher no oriente médio somada a condição social de pobreza a tornavam quase que indigna de estar ali. Quando ela se aproxima do templo é completamente ignorada. Quando suas mãos lançam as duas pequenas moedas, não há alarde, não há festa, não há anúncio, só há silencio. Seria uma cena para ser esquecida pelos religiosos. mas os olhos de Jesus observavam atento aquele humilde gesto. Não poderíamos precisar quantas horas Jesus esperou, observando pessoas ofertando diante do templo. Algumas genuinamente sinceras, outras igualmente generosas. Porém nenhuma quantia, nenhuma oferta tocaria ao Senhor de toda a vida. Quando seus olhos se fixaram na viúva, ele sabia que aquilo seria realizado naquele instante seria extraordinário. Aquela oferta possui um significado especial. Nunca, nem através dos santos do Velho Testamento ou nos dias em que vivemos, nas milhares de igrejas que foram fundadas sobre a terra, uma oferta tão magnífica aconteceu. Aquela mulher ofereceu o que tinha sem saber se iria comer na manhã seguinte. Ela enfrentou a vergonha instituida por uma visão capitalista da religião e fixou seu olhar no que estava fazendo, com o coração desprovido de liturgias, mas inundado de fé. Embora fosse uma quantia risível, era o que podia fazer, entendia que DEUS receberia de bom grado o que estava realizando, mesmo contra todas as convenções humanas. vigentes. Mesmo que não houvesse um jornal para noticiar sua obra de filantropia, mesmo que não houvessem parentes ou amigos que pudessem testemunhar sua oferta solitária. Mesmo que não houvesse um amanhã como fruto de alguma promessa atrelada a oferta, o que tinha, ela o faria, para que de algum modo, o sacerdócio que ela acreditava ser segundo Deus (ainda), pudesse ser auxiliado por sua pobreza. Ela, que não tinha onde cair morta, cria que faria diferença a limitada oferta do quase nada que possuía. Ninguém a notara. Não havia um cartaz, uma faixa saudando sua chegada, um abraço carinhoso agradecendo seu gesto. Não esperava recompensa. Fêz o que cria que deveria ter sido feito. E Jesus a viu fazer. E seu coração se encheu de alegria. O templo era a casa de Cristo. Ele a chamava de "a casa de meu Pai". Lá, apesar do paradoxo, o que Jesus viu foi a exploração humana. Lá, o que ele viu foi desprezo às leis divinas. Lá, o que Ele encontrou foi irreverencia e religiosidade morta.
Certa feita, Jesus sentiu tanta raiva daquilo que faziam, do tamanho desrespeito com as coisas divinas, que expulsou os cambistas, aos vendedores de pombos, bodes, ovelhas; expulsou ao imenso grupo que loteava o templo como uma feira, misto de extorquidores e extorquidos. Construindo apressadamente um chicote de cordas, na mais cinematogárfica cena dos evangelhos, sozinho, contra dezenas, em minutos, a todos expulsou.
Outra feita Jesus discutira com os Escribas que haviam transformado uma ordem divina, que dizia que era obrigação dos filhos o sustento dos pais quando estes envelhecessem, em "oferta" ao santuário. A "Corbã" era o nome do ato em que os israelitas eram incentivados a substituir a obrigação deste sustento aos seus pais, por uma oferta continua ao templo, anulando o bem que poderiam trazer aos seus familiares, por um gesto de aparencia de piedade, só que destituido de valor. Os fariseus desenvolveram várias técnicas estelionatárias para conseguir benefícios das famílias religiosas. Aproveitando momentos de perdas, entravam nas casas das viúvas após o enterro de seus familiares com o pretexto de um período de "Consolação" onde passavam dias "orando" para receberem gratuitamente o almoço e o jantar. A viúva representava exclusão social, desamparo, tragédia. Agora, do lado de fora, uma tragédia, que não possuia sequer o suficiente para comprar o menor dos pombos (o ofertante de sacrifícios que não possuía condições de sacrificar uma ovelha, oferecia um passarinho) honrava ao Pai, sem saber que ela também seria honrada pelo Filho (para todo o sempre), que tàquela que não tinha valor, seria valorizada diante de milhões; que aquela que chegou sem alarde, seria proclamada pelo próprio Messias.
Ela ainda caminhava em silencio, voltando para sua humilde casa, quando por detrás de si, Jesus a reconhecia diante de todos. Ela não pediu tal reconhecimento. Entretanto, por toda a eternidade será lembrada. Porque ousou colocar a disposição de Deus o seu presente, sem se importar com as perdas do seu passado, e sem se incomodar com o sustento do seu amanhã.



Welington José Ferreira

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Som do Coração

Género: Drama
De: Kirsten Sheridan
Com: Freddie Highmore, Keri Russell, Jonathan Rhys Meyers, Robin Williams, Terrence Howard, William Sadler

“The music is all around us. All you have to do is listen.”

Image Hosted by ImageShack.usHá doze anos atrás, em Washington Square, lyla Novacek (Keri Russell), uma jovem violoncelista, e Louis Connelly (Jonathan Rhys Meyers), um carismático cantor irlandês, conheceram-se e ficaram rendidos á música tocada pelos músicos de rua. Eles apaixonaram-se perdidamente. Mas apesar do seu amor ser real e incontestável…foi de curta duração.

Após o dia mais romântico de sua vida, lyla prometeu voltar a encontrar-se com Louis novamente, mas, o seu pai (William Sadler) mais preocupado em levar Lyla ao seu próximo concerto, não deixou que eles se voltassem a reencontrar e fez com que Louis pensasse que ela não estava mais interessado nele.

Destroçado, Louis acabou por abandonar a sua música, enquanto lyla, meses mais tarde, foi enganada ao terem-lhe dito que perdeu o seu filho ainda por nascer, num acidente de carro.

Anos passaram sem nenhum deles a saber da verdade.

Agora, a criança secretamente entregue pelo pai de Lyla a um orfanato, cresceu para se tornar numa talentosa criança (Freddie Highmore), que consegue ouvir e sentir a música de uma forma excepcional.

Apesar de ter sido abandonado, ele mantém uma profunda e inabalável convicção de que seus pais estão vivos e que ambos desejam voltarem-se a encontrar com ele.

Determinado a procurá-los, ele encontra o caminho para Nova Iorque. Lá, perdido e sozinho, ele é atraído pela música da guitarra tocada por um miúdo de rua. Ele segue-o até a um abrigo abandonado, onde dezenas de crianças como ele vivem sob a protecção do enigmático Wizard (Robin Williams).

Image Hosted by ImageShack.usNaquela noite, ele pega na guitarra pela primeira vez, consegue improvisar e surpreender o Wizard , que ficou espantado por um simples miúdo conseguir tocar algo de uma forma tão apaixonada.

Wizard tem grandes planos para o jovem prodígio, mas para August, a sua música tem um propósito muito mais importante. Sem nunca perder a esperança de encontrar os seus pais, ele acredita que se eles ouvirem a sua música, irão procurá-lo.

Entretanto Lyla descobre que o seu filho está vivo, ela está desesperadamente a tentar localizá-lo com a ajuda de um assistente social, bastante empenhado, o Richard Jeffries (Terrence Howard), enquanto que Louis, ainda perseguido pelas lembranças do seu verdadeiro amor, acaba por regressar ás suas raízes musicais e a visitar onde eles se conheceram.

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Separados por eventos que marcaram as suas vidas, Lyla, Louis e August, procuram descobrir o que eles perderam e o que poderá preencher novamente o vazio das suas vidas.

Esta longa-metragem tem como realizadora Kirsten Sheridan. Já o argumento foi escrito por Nick Castle (Hook) e James V. Hart (Contacto, Sahara).

August Rush estreou nos cinemas dos Estados Unidos no dia 19 de Outubro de 2007.

Nós musicos deveríamos ser proibidos de assistir filmes como este.
Principalmente aqueles que tocam instrumentos de cordas.
Eu levei quase três minutos para conseguir voltar a falar, depois que o filme terminou.

Não que eu quisesse voltar a falar.

Quando termina o filme, você percebe que parou de respirar.
E quando você recomeçar a respirar,
vai começar a prestar atenção na própria respiração.

Enquanto viver...

Nós subimos no palanque juntamente com o Evan,
tomamos nas nossas mãos sua batuta e regemos as batidas do nosso coração
a cada movimento das mãos do menino que se transformou em musica.
Ou da musica que se transformou em menino.

Davi, rei, ungido, profeta e músico, destilou poesias
de imensa profundidade nas páginas mágicas
das Escrituras, compondo canções que se tornariam
os salmos de inúmeras gerações. A biografia deste extraordinário homem termina
como sua fantástica história, com uma frase que é antológica,
depois de anos guerreando, reinando, compondo, cantando, profetizando, derramando seu coração,
Davi escreve o que seriam seus últimos versos e diz:
"aqui terminam as palavras de Davi"

Só isso.

Uma vida inteira de feitos tremendos, e ao final, ele se despoja das glórias passadas, e das vestes reais, para terminar sua vida com a roupagem que lhe era a mais peculiar,
as vestes de um ser humano.
Davi disse tudo que tinha para dizer. Já nada mais restava a ser dito.
Essa é a sensação que fica quando O Som do Coração termina.
Nada mais necessita ser acrescentado.
Era isso que eu gostaria de ter dito. Pelas mãos do Evan.

Welington José Ferreira