sábado, 18 de dezembro de 2010

Sorriso para a terra

De nada me arrependo...a pior frase do mundo

 DE nada me arrependo ... 

Pra todo ser humano que teve a infelicidade de dizer esse negócio em algum momento de sua vida, pensando que dava a entender 
sua absoluta convicção  de que viveu de um modo pleno 
dentro das condições que a eternidade lhe proporcionou.

Comentário no Orkut de uma amiga:

Perae... nunca comprou roupa um numero menor...sapato que dá calo...viu filme ruim indicado por amigos...comeu comida passada...foi pra praia e torrou até a alma logo após desprezar todos os conselhos da mãe pra voltar cedo e usar o protetor solar...que vc não usou...
entrou na fila errada...
pintou o cabelo com a cor errada...usou o produto que quase te deixou careca...
falou a coisa indevida na hora errada....
magoou quem não devia magoar...
se vc não se arrepende de nada, é porque você é um anjo, ou você é uma pedra, ou você é uma recém nascida... solicito pequena alteração pra... nada me arrependo das coisas que fiz de coração.... já dá uma certa segurança...nem assim significa não odiar uma decisão tomada as pressas...magoada...com raiva... mas já fica mais coerente...o ideal seria:
 nada me arrependo das coisas que fiz de coração.guiada pelo Espirito de Deus.
nice. Essa seria a frase.



Então faça-me o favor.

Só há vida plena com arrependimento.
Por isso gritava João:

Arrependei-vos! Porque perto de vós 
está o reino dos céus...

Então pare de brincar de senhor de suas escolhas. De dono de seu passado.
De proprietário de seu amanhã. Pare de abraçar o caos como se o aborto
que você teve, como se o casamento que se desfez, como se a amizade que se perdeu, como que se o sonho que não vingou, como se a dor que você causou
fizessem parte do Projeto de sua vida.
Arrepender-se não vai te matar.
Porque é o arrependimento que muda nossa caminhada e nos transforma em seres humanos.
É o arrependimento que muda o teu modo de agir, de pensar, de realizar.
É o arrependimento a força que te conduz pra longe
do caminho errado.
Que te constrange a perdoar a falta cometida,
a reaver o laço perdido,
a reconquistar o coração
que você magoou.
A reconstruir o que suas mãos destruiram
A recomeçar onde você desistiu.
Porque as vezes nos arrependemos de desistir.

As vezes você tem que se arrepender
de deixar de fazer.

Outras, de fazer.

Não aceite a si mesmo, não se imagine pronto,
não deixe de se transformar
Não aceite  uma situação só porque você não quer sentir a vergonha da dor ou a dor da vergonha.
Não relativize suas falhas. 
Não sucumba diante do remorso,
 o remorso é a atitude de quem se arrepende, mas que não deseja transformação,
Fica remoendo o erro e a culpa, mas não segue nem adiante e nem se esforça pra consertar
o que se quebrou.
Mas arrepender-se significa tomar uma atitude diante de algo
E transformar o não em sim.
E muitas vezes
O sim
em não...








sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A monstra

Monstruosa ela se arrastava feito um corvo torto numa noite de tempestade
Mórbida como um fantasma com os ossos a mostra
tremula como folha de capim em noite de vendaval
Se fosse mais feia matava de susto,
Se fosse mais torta nem a gravidade dava jeito
Ninguém sabia se ela ia ou se estava voltando
E ia a monstra horrenda sibilando e se arrastando
rejeitada pelos ogros
e temida por duendes
Tão horrenda a criatura
Dizem qua a morte até tentara
dar cabo de tamanho horror
mas ao olhar seus olhos negros
Até mesmo esse abismo
Jamais se recuperou...

Um dia entre as colinas
Se arrastando como sempre
Escorregou por entre as pedras
E entre as rochas se prendeu
E ouviu-lhe os rogos
Destemido caçador
E movido de coragem intensa
Esgueirou-se entre as rochas
Envolveu-a em suas cordas
E a monstra ele salvou.
O ser desprezado e rotundo
De feiura impar
E sem par
Esboçou um gesto timido
Baixou sua fronte sem brio
Acostumada a olhar o chão
Por toda a sua vida
E sem sequer uma palavra
caminhando ela se ia.

Mas ele não lha permitiu
Tomou de seu alforje vinho
De sua bolsa o pão
E sentado em meio as rochas

O caçador a serviu.

Tremeu ao comer do pão
Chorou ao beber do vinho

e adormeceu sem forças
Sem compreender porque

ao abrir seus olhos tinha mãos
E cabelos dourados como o sol
Seus pés que ela nunca avistara
Eram de alvura tanta
e suas pernas torneadas
sob um vestido imenso
Feito de púrpura
E Carmim
E ela que por toda vista se arrastara

Pelas colinas

Correu


Welington José ferreira

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Perturbando Barbara 8

Querida Ambientalista. Como não poderia deixar de ser, declaro que os últimos momentos na busca de um lugar ao sol, ambientalmente falando, do árduo processo licenciatório de nossa futura Unidade Industrial caminha a passos largos graças a sua intrépida atuação. Comemoramos inclusive, há alguns dias, a emissão de uma licença prévia,  conseguida a custo de técnica, atuação em conjunto e pouquíssimas ameaças de morte, após aquele idílico jantar naquele restaurante de pratos exóticos onde toda a equipe se regalou com pratos de canja de sagüi-bigodeiro, salada regada ao molho de doninha amazônica, aquela farta entrada de iguarias, tais como tamanduá bandeira e manteiga de garrafa,  guisado de veado- campeiro preparado no mais alto padrão da cuisine nouvelle,  seguido de peixada com boto-rosa, peixe-boi, Curimbatá, Jatuarana, Jurupoca e bagre. Embora eu não compreenda porque consideram os dois mamíferos citados anteriormente como parte da peixada. Tucano na telha, Mico leão Dourado a doré, ou seja uma noite de ampla culinária brasileira. Saímos daquele restaurante com certo questionamento ecológico, mas nada que não permitisse a alegria de brincarmos junto as margens do rio Paraná lançando aqueles pedaços de ostraca, papiros com escrita cuneiforme e aquelas moedas toscas, que você apelidou de didrakmas, com uma imagem de um leão sagrado andando e no verso a imagem de uma divindade qualquer com um cetro na mão direita, lá no meio do rio. Também não podia deixar de citar sua índole de exploradora, quase uma Tomb Rider do centro oeste ali no meio daquela mata... daquela empresa... que não lembro o nome, em que você deixou de lado... pequenos detalhes tais como: roupa de segurança, autorização para entrar na plantação de eucaliptos, reunião com o responsável pela área e essas coisas fúteis, só pelo puro prazer da aventura de ser caçada por seis seguranças fortemente armados que só recebem autorização de ver suas famílias se capturarem com ou sem vida ao menos um intruso na propriedade por mês.    
Estávamos no avião da pilotado pelo estagiário que tinha síndrome de piloto da RAF, quando você me surpreendeu com seu vasto conhecimento da história brasileira, de como Leopoldina era apaixonada por Brendan Frasier, um figurante a ator, falastrão e fanfarrão que tinha um projeto de realizar um filme de ficção, gênero que não tinha sido sequer inventado ainda, sobre o antigo Egito ou coisa que o valha. Acho que era neto de uma prima em terceiro grau da princesa Isabel, aventureira e exploradora que na verdade, nas entrelinhas da história se reunia com Santos Dumont pra idealizar o primeiro dirigível que apoiou a Dom Pedro Segundo quando as Margens do Ipiranga gritou para um grupo de caboclos: - Aqueles que forem brasileiros que persigam aquele miserável do Duque de Caixias!
Fiquei cativado pela imagem doce da percepção botânica de Dom Pedro Segundo, grandioso amigo de Machado de Assis e que sonhava com a casa de Nápoles, assim como saber sobre o dramaturgo Conde D´eu. Fico imaginando as noites de boemia que Tereza Cristina, Leopoldina e o Conde de Saxe tocando:

 “É isso aí! Como a gente achou que ia ser A vida tão simples é boa Quase sempre É isso aí! Os passos vão pelas ruas Ninguém reparou na lua A vida sempre continua”

naquele enorme piano Steinway no palácio Guanabara. O Barão de Cotegipe que era sócio do Lions também exerceu grande influencia nesse contexto todo. Inclusive a tal Regência tava sempre querendo blues.  E as noites naquele castelo que o Conde D´eu tinha comprado na Normandia só se rivalizavam com a glória daquela mansão que Isabel mantinha em Paris. Como dizia a hindu, que se tornaria mais tarde Maharani de Karputhala, escrevendo em suas memórias que ela via a Princesa Isabel como uma verdadeira rainha, uma fada.  
Infelizmente não deu pra continuar sua palestra belíssima porque já estávamos em São Paulo. Do resto eu lembro pouco, só de você sorrindo e dizendo...
...obliviate...