Certa feita um dois irmãos se aproximaram de Jesus e gritaram:
Parábola de Lucas 12:13-20
- Mestre! Ajuda-nos a dividir a herança entre nós!
Jesus replicou:
- Quem me colocou como Juiz ou Repartidor entre vós?
Havia um eco por detrás daquele chamado ou suposta honra. Sinistro eco. Tão sinistro eco que
logo após, Jesus narra uma parábola sobre a velha senhora Avareza.
Inventários costumam ser torpes batalhas judiciais que se arrastam anos a fio.
A poesia abaixo ( e que poesia!) retrata de modo belo a essência da resposta à voz
oculta por detrás da "terna" solicitação, resultando numa das maiores lições
de vida que um homem poderá ouvir, enquanto viver.
Welington
Ressurreição
(Ode sobre um Tanque a Queimar: Terras Santas, outubro de 1973)
Sou uma voz:
a voz do sangue derramado
clamando desde a terra.
A vida está no sangue
e durante anos a minha vida fluiu nas veias de um jovem.
Minha voz foi ouvida através da voz dele.
Então o nosso vulcão entrou em erupção
e durante vários dias de entorpecimento
todas as vozes humanas foram silenciadas
por entre o rugir dos canhões pesados,
o clangor metálico de esteiras de tanques,
os estampidos que fazem tremer os ossos,
como gladiadores com espadas de um milhão de dólares
a se matarem uns aos outros nas alturas do céu.
Depois, repentinamente – repentinamente
veio o zumbido de um lançador de foguetes –
um clarão amarelo sujo –
todo o inferno rugiu.
O clangor das grandes esteiras cessou.
O meu jovem herói saiu cambaleando e gritando do seu inferno;
o seu corpo contraiu-se bruscamente e caiu pesadamente na areia.
E eu fui jogado por terra –
a santa terra
da Terra Santa.
A batalha continuou.
Os veículos feridos continuavam queimando,
ressecaram-se e esfriaram.
Os "vagões de carne" levaram os corpos embora, enquanto
o frio da noite do deserto
abateu-se sobre colinas e dunas.
E eu, endurecido e escurecido na areia.
E então – e então
Ao voltar o silêncio imemorial
do agora cicatrizado deserto,
ali – ali congelada na terra,
na terra de profeta, sacerdote e rei –
Eu ouvi uma voz –
uma voz das profundezas da terra,
uma voz de outro sangue
outrora derramado violentamente na terra.
A voz me contou esta antiga estória;
sangue precioso entoou este antigo conto.
"Certo homem tinha dois filhos.
Um era rico e o outro era pobre.
O filho rico não tinha filhos
enquanto que o filho pobre fôra abençoado
com muitos filhos e muitas filhas.
Com o passar do tempo o pai caiu enfermo.
Ele estava certo de que não viveria mais uma semana
e por isto no sábado ele chamou os filhos para o seu lado
e deu a cada um deles metade da terra da sua herança.
E depois morreu.
Antes do pôr do sol os filhos sepultaram o pai com respeito
como o costume requer.
Naquela noite o filho rico não conseguiu dormir.
Ele disse para si mesmo:
"O que o meu pai fez não foi justo.
Eu sou rico, e meu irmão é pobre.
Eu tenho pão suficiente e de sobra,
enquanto que os filhos de meu irmão comem um dia
e confiam que Deus os alimentará no seguinte.
Preciso mudar o marco que nosso pai colocou no meio das terras
de forma que o meu irmão tenha um quinhão maior.
Ah – mas ele não pode me ver.
Se ele me vir, ficará envergonhado.
Preciso me levantar de madrugada, antes do sol nascer, e mudar o marco!"
Com isto ele adormeceu
e o seu sono foi seguro e pacífico.
Nesse ínterim, o irmão pobre não conseguiu dormir.
Enquanto estava deitado inquieto na sua cama, disse para si próprio:
"O que o meu pai fez não foi justo.
Aqui estou eu rodeado de filhos e muitas filhas,
enquanto que meu irmão diariamente enfrenta a vergonha
de não ter filhos que ostentem o seu nome
nem filhas para consolá-lo na sua velhice.
Ele devia possuir a terra de nossos pais.
Talvez isto em parte lhe compensasse
pela sua indescritível pobreza.
Ah – mas se eu lhe der ele ficará envergonhado.
Preciso levantar-me de madrugada, antes do sol nascer
e mudar o marco que nosso pai colocou!"
Com isto ele adormeceu
e o seu sono foi seguro e pacífico.
No primeiro dia da semana –
bem de madrugada,
muito antes de o dia romper,
os dois irmãos se encontraram no lugar do velho marco.
Caíram em lágrimas nos braços um do outro.
E naquele lugar foi construída a cidade de Jerusalém."
– por Kenneth E. Bailey - do livro "A poesia e o camponês" - Edições Vida Nova
Nenhum comentário:
Postar um comentário