terça-feira, 11 de setembro de 2007
jabuticabas
Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para
viver daqui pra frente do que já viví até agora.
Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de
jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas
percebendo que faltavam poucas, rói os caroços.
Já não tenho tempo para lidar com médios cuidados.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles
admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos
fixos para reverter a miséra do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de
semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para
discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos
internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de
pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em
reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo".
Lembrei-me agora de Mário de Andrade, quando afirmou:
"as pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debeter rótulos, quero
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jaboticabas na bacia.
Quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que
sabe rir de seus próprios tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge
de sua mortalidade, defende a dignidades dos
marginalizados, e deseja, tão somente, andar ao lado de Deus.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar
desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda
de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.
Nada neste mundo faz sentido se não tocamos o coração
das pessoas.
Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também
pode crescer com os toques suaves da alma.
Desconheço o autor.
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